Em 2 de abril, sábado, o New York Times publicou com tradução da UOL para português a matéria “Bancos deixam de financiar usinas a carvão nos EUA”, escrita pelo jornalista de negócios Michael Corkery especializado em cobrir ações de grandes bancos.
A indústria de usinas termoelétricas movidas a carvão representa um terço da produção de energia nos Estados Unidos da América, ainda assim, bancos como JPMorgan Chase, Bank of America, Citigroup, Morgan Stanley e Deutsche Bank adotam uma postura de desincentivo ao financiamento de atividades da matriz energética responsável por alta emissão de gases de efeito estufa que ocasionam mudanças climáticas abruptas.
Segundo Michael Corkery, além da tentativa particular dos bancos de assumirem posturas ambientalmente partidárias, “emprestar para companhias de carvão é arriscado demais e poderá ser improdutivo”, representando grande ameaça de inadimplência para os bancos.
Os estoques do recurso nos EUA ainda são grandes e aqueles que operam instituições a favor da exploração do carvão vêem grandes vantagens na utilização e comercialização da fonte energética. O mercado de ações responde rapidamente às posturas dos bancos financiadores e aceleram o processo de decadência da atividade altamente poluidora.
A economia e a avaliação ambiental operam lado a lado na seleção de tecnologias e processos que utilizam recursos ambientais e/ou têm potencial de poluí-los. Outros exemplos expressivos desta aliança que impactam atividades industriais são: a substituição da eletrólise com células de mercúrio para fabricação do cloro/soda por processos com células de membranas; a substituição do gás CFC (clorofluorcarboneto) pelo HFC (hidrofluorcarboneto); a incorporação dos resíduos de construção civil (RCC) na construção civil; a reciclagem de metais nobres dos resíduos eletrônicos; a migração dos projetos MDL de queima do biogás para processos de geração de energia; o reuso de água que receberá em breve normatização da ABNT.
Normalmente a avaliação dos impactos ambientais não conduz à substituição de processos industriais altamente poluentes por outros mais brandos, estes eventos ocorrem em casos de severa restrição normativa ou de desincentivo econômico, como com as usinas de carvão dos EUA. A instauração de políticas e sistemas de controle de poluentes, e a otimização dos processos unitários na produção industrial são os métodos usuais de controle do impacto industrial ao meio ambiente.
A substituição de processos em indústrias é altamente dispendiosa, pois exige modificação dos sistemas produtivos, das instalações, da cadeia de fornecedores e prestadores de serviços, da mão-de-obra e muitas vezes do sistema de gestão. Em contrapartida, a implementação de políticas e sistemas de controle ambiental, juntamente com a otimização de processos unitários, agregam mão-de-obra qualificada, elevam o controle da utilização de insumos materiais e energéticos, promovem o compliance ambiental e geram imagem positiva ao mercado.
Os investimentos pagam-se a médio/longo prazo e sempre há espaço para análises financeiras de retorno de investimentos. Se considerados os custos ambientais não pagos diretamente pelo industrial, gerados em detrimento da manutenção saudável da biodiversidade e da saúde humana, o retorno de investimento se dá em curto prazo.
Conhecer o balanço de massa e energia dos processos produtivos e avaliar o impacto ambiental das unidades industriais constituem os primeiros passos para o aumento da eficiência produtiva, ambiental e econômica de empresas consolidadas.
O Registro de Emissão e Transferência de Poluentes (RETP) busca inventariar poluentes emitidos ou transferidos por empresas por meio de declaração no Relatório Anual de Atividades Potencialmente Poluidoras e Utilizadoras de Recursos Ambientais (RAPP) do Cadastro Técnico Federal do Ibama/MMA. Ao qualificar e quantificar substâncias potencialmente poluidoras do RETP, as empresas podem reavaliar a eficiência de seus processos unitários, propor metas para redução da perda de insumos químicos e mitigação do impacto ambiental. As emissões de gases de efeito estufa também são solicitadas na declaração do RAPP para algumas atividades econômicas.
A perspectiva ambiental está enraizada na nova geração de investidores, que exige das empresas capacidade técnica para avaliar as potencialidades e limitações de suas tecnologias industriais. A eficiência de processo é tão importante para bem-estar econômico de empresas quanto a eficiência ambiental. Atividades que permitem qualificar e quantificar substâncias poluentes lançadas para fora das fronteiras das indústrias colaboram para a validação de políticas e sistemas de controle de poluentes, assim como para o aumento de eficiência dos processos unitários.